quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Saindo da carne

(do original “Coming Out Of The Flesh”, de Mike Wells)

Ora, as obras da carne são manifestas: imoralidade sexual, impureza e libertinagem;” (Gálatas 5:19)

A carne: uma condição de estar sob a influência de algo que não seja o Espírito de Deus, e é nessa condição que todas as pessoas nascem. Todos os humanos vivem suas vidas na carne, cada um expressando-a com seu jeito singular em diferentes níveis de intensidade.

A carne é carne e ela é hostil a Deus. A condição da carne é o homem fazer aquilo que quer e odiar aquilo que faz. A pessoa carnal cresceu para dentro, é sensível de maneira errada, e é irada. Ela acredita que o motivo pelo qual a carne não satisfaz a carne é simplesmente porque os outros colocaram vários obstáculos para que isso não acontecesse. A raiz da vida carnal é o orgulho. Ele diz: “Eu sei o que eu preciso”.

O complexo processo de sair da carne não pode ser realizado por homem algum, independentemente da grandeza do seu intelecto, da sua vontade forte, ou da sua paixão. Ao contrário, o processo está implícito na própria natureza das coisas. Toda a criação trabalha conjuntamente para libertar o homem da carne. O mundo externo não faz o homem ficar na carne, mas antes faz o homem saturar-se dela até a morte.

O homem é espírito vivendo em um corpo. O espírito tem necessidades que somente Deus pode atender. Procurar atender o desejo do espírito na carne leva à frustração à medida em que o homem quebra-se em pedaços ao se conscientizar da sua situação. Ele é vazio! Ele vê a necessidade de alguma coisa diferente do que os seus sentidos percebem.

Uma revelação pode vir do espírito: “Eu preciso do Senhor!” O espírito do homem grita por essa necessidade desde que abandonou o Jardim do Éden. As experiências no mundo testificam que isso é verdade, também a Bíblia testemunha isso, outras pessoas o explicam e, no tempo certo, quando aquilo se torna uma revelação claramente enxergada, a pessoa está preparada para aceitar Jesus. Ele então enche o espírito de tal maneira que o cristão, com alegria e gratidão, deixa de lado as obras vazias da carne, feliz em dizer adeus a elas. Visto que não pensa mais naqueles termos, as obras da carne são deixadas de lado naturalmente! Sem esforço! E o Cristão poderá balançar a cabeça, espantado com aqueles que ainda lutam. Pra que olhar para aquelas coisas, quando Jesus atende a necessidade? “Roubaram minha bicicleta, mas eu não me importo! Alguém me deu um carro!”

É importante notar que, a essa altura na vida do cristão, ele deixou de lado as obras da carne não por que quisesse ou tivesse escolhido isso, mas porque elas foram substituídas por um ato divino do Espírito Santo. Quando alguém está morrendo de fome, até a comida de cachorro lhe parece boa. Mas se colocam um bife na sua frente, ele esquece a comida canina e a sua atração por ela, em vista daquilo que está vendo agora. Não significa que agora ele entende a carne, o caminhar nela, a sua atração, o orgulho que o mantinha preso a ela, ou a satisfação momentânea que ela dá. Essas perguntas não são importantes em vista do que ele agora vê, e da satisfação que sente no mais profundo de si mesmo. Não foi feita uma decisão consciente de deixar a carne de lado. Foi uma decisão inconsciente, feita em função daquilo que agora via na sua frente. Porém é preciso que uma decisão consciente seja feita. E qual é esta decisão? A única decisão que precisa ser feita daquele ponto em diante é a decisão de permanecer! Se nós simplesmente permanecermos em Cristo, estaremos sempre cheios, e a atração da carne se perde.

A compatibilidade no casamento

(do original Compatibility, de Mike Wells)

Ora, assim como o corpo é uma unidade, embora tenha muitos membros, e todos os membros, mesmo sendo muitos, formam um só corpo, assim também com respeito a Cristo.” (1 Coríntios 12:12)

É muito difícil conseguir que os conselheiros matrimoniais que apóiam a necessidade absoluta de compatibilidade definam o que é compatibilidade. Eu gostaria muito de saber qual a aparência dela, mas quanto mais detalhes eu peço, tanto mais vago se torna esse absoluto. Por exemplo, será que compatibilidade significa que as pessoas precisam gostar das mesmas coisas para conseguirem se dar bem? Se isso fosse verdade, por quê é que os sócios de um negócio, que têm exatamente a mesma paixão por ele, acabam se separando?

Será que compatibilidade significa fazer as mesmas coisas? Se fosse verdade, por que é que as expedições se separam?
Será que compatibilidade significa vestir o mesmo tipo de roupa? Então por que é que os soldados que usam uniformes idênticos brigam entre si?
Será que compatibilidade é ter a mesma filosofia de vida? Então por que há tantas brigas entre os líderes do partido comunista?

Descobrimos que, quando o problema é compatibilidade, estamos na realidade correndo atrás de algo que não é um problema. Um casal não se separa por causa da incompatibilidade. Ao contrário, a incompatibilidade é a maior razão para haver unida-de. Uma expedição é bem sucedida porque as pessoas realizam seus diferentes tarefas com excelência. Nos negócios, conseguir um sócio que faça com paixão aquilo que o outro odeia leva ao sucesso rápido e harmonioso. Uma família na qual o pai e a mãe repartem as responsabilidades cria filhos saudáveis.
No casamento, a compatibilidade não é o problema. Quando se trata de relacionamentos, o problema é a carne, mais conhecida como natureza humana.
Por isso, vivam pelo Espírito e de modo nenhum satisfarão os desejos da carne.” (Gálatas 5:16). No fim das contas, casamento não é uma questão de personalidade ou compatibilidade, mas uma questão de carne versus espírito. Quando a carne luta contra o espírito no casamento, as coisas desejadas não podem ser obtidas. E o que um casal cristão deseja? Sem exceção, todos querem paz, alegria, amor, paciência, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Nunca encontrei um casal que tivesse decidido arruinar seu casamento a partir do primeiro dia. Depois dos votos de casamento, nenhum marido ou mulher começou imediatamente a fazer listas de como poderiam esculhambar a vida do seu conjuge. Vejo muitos casais participando de cursos sobre casamento e nenhum deles gosta de estar lá. Mas é verdade que os casais fazem coisas que tornam seus casamentos infelizes.

O que estou querendo dizer é que eles nunca tiveram a intenção que o seu casamento chegasse no estado infeliz que se encontra hoje; isso não aconteceu por causa de um plano, mas pelo andar na carne. (Carne= o homem sob a influência controladora de qualquer coisa que não seja Cristo, isto é, sendo controlado pelo egoísmo, pela raiva, por outros hábitos, emoções enganadoras do passado, pecado, etc.). Um músculo se torna maior quanto ele é exercitado. Quanto mais alguém exerce controle, tanto mais controlador se torna. A carne produz carne. Se um casal decide se relacionar através de brigas, inimizades, ira, disputas, dissensões e fações, tanto mais infeliz se tornará o casamento.

Andar na carne cria exatamente o oposto daquilo que um casal cristão deseja, ou seja, cria mais carne. Costumo dizer que a finalidade do casamento é tornar você infeliz! É verdade, pois somos infelizes na proporção em que andamos na carne. Se quisermos sair da infelicidade, precisamos andar no Espírito. Amar do jeito que a mídia nos mostra é, freqüentemente, apenas amor pelo corpo; desejar ardentemente a aparência do outro. Com muito menos freqüência, o amor é retratado como amor de alma, ter pensamentos semelhantes um pelo outro, emoções parecidas e uma motivação comum. Contudo, o casamento cristão é amor verdadeiro que está centrado no Espírito, na unidade Nele. O casamento espiritual não precisa ser perfeito em corpo ou alma; espírito produz espírito e todas as diferenças exteriores são inconseqüentes.

Entretanto, visto que o espírito é a questão, é preciso avisar cada casal das tentativas do inimigo para tirá-los do Espírito. A situação mais volátil de um casamento acontece quando um dos dois está no Espírito e o outro na carne. Quando ambos estão na carne, o casal consegue coexistir; quando ambos estão no Espírito, é uma amostra do céu; mas quando um está no Espírito e o outro na carne é igual a um inferno. No entanto, esse inferno pode durar pouco, se abordado corretamente.

Quando estamos na carne, a vida na carne faz completo sentido, de modo que reagiremos a qualquer um que tente nos tirar de lá. Portanto, a primeira reação, quando o conjuge que está no Espírito se aproxima, é puxá-lo para a carne. Por quê? O espírito contrasta com a carne e aumenta a consciência da existência dela.

A carne humana não agüenta o contraste. Por exemplo, eu lembro que ia a festinhas quando estava entrando na adolescência. Era o único que não fumava. Ninguém ao meu redor sentia-se bem com isso. Eu não me importava que eles fumassem, pois minha razão para não fumar era que eu sofria de asma. No entanto, eles continuavam me pressionando para fumar. Aqueles que estão na carne detestam o contraste. Foi o contraste que levou Jesus à morte. Se tivesse agido como os outros líderes religiosos, prestado homenagens aos que estavam na carne e usado métodos mundanos para conseguir um reino, teriam deixado ele em paz.

Se o marido está na carne – um lugar desconfortável para um cristão – e consegue apertar botões suficientes para trazer a esposa para a carne, então a pressão para mudar desaparece. A carne dele agora é justificada pela carne da mulher. Não há amor maior do que dar a sua vida pelo outro. O cônjuge que está no Espírito precisa dar a sua vida pelo cônjuge carnal. Quando o marido é grosso, a mulher precisa atravessar a sala em direção a ele, reconhecer o estado em que ele está, e dar-lhe um beijo. Ao fazer isso, cria-se um contraste. O marido não vai reagir imediatamente no Espírito; pelo contrário, ele vai tentar com mais força fazer com que a esposa caia na carne. E mais uma vez ela precisa morrer, recusar-se a reagir, e dar outro abraço. Enquanto ela está fazendo isso, acontecem duas coisas. Primeiramente, ela sente uma liberdade incrível das circunstâncias externas. O controle do Espírito!!! A liberdade que se goza no Espírito. As palavras e comportamentos dos outros não controlam mais as palavras e comportamentos dela. Em segundo lugar, o marido precisa agora enfrentar a sua própria carnalidade. Ele vê na sua esposa o contraste divino, a carnalidade está no colo dele, ele precisa (como dizem os africanos) carregar seu próprio macaquinho: ele não consegue mais culpar ninguém a não ser a si mesmo. Ele precisa voltar à viver no Espírito.

Paulo dizia: “Em nós opera a morte, mas em vocês a vida”. Portanto, a verdade maior que inclui a verdade menor é: a vida no Espírito torna a compatibilidade perfeita.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Será que nunca vamos mudar?

Será que nunca vamos mudar? Será que não temos jeito?
(por Mike Wells)

“…e se alguém está em Cristo, é nova criação.” [2 Cor 5:17].
Sim, tornamo-nos algo novo, diferente e especial. Recebemos uma nova natureza e os velhos desejos morreram. Nossas vidas como cristãos agora seguem naturalmente os mandamentos de Cristo, sem esforço. Sabemos que isto é verdade, mas será que é isso que o cristão normal experimenta no dia-a-dia? A nossa experiência tem sido essa? Ou esse tipo de vida – seguir a Cristo diariamente, sem esforço – está reservado apenas para uns poucos que têm sorte?

Parece que a vida cristã normal não é uma vida de novos desejos, porém uma batalha constante contra os velhos desejos. Uma vida na qual aumenta a insatisfação com nossa incapacidade de “sermos cristãos”. No entanto, continuam nos dizendo que somos uma nova criatura. Como podemos ser nascidos de novo, novas criaturas com o nosso velho homem crucificado com Cristo e, no entanto, continuar lutando com os hábitos, fracassos, pecados, depressões e frustrações do passado? Será que a nossa luta revela que há algo errado conosco ou com a nossa conversão? Será que a luta significa que precisamos de mais alguma coisa? Será que nos falta uma determinada “experiência espiritual”? Será que realmente nos entregamos? Será que estamos gastando tempo suficiente na Palavra?

Pois anime-se! A luta revela que algo está certo em você! Ela prova que você é uma nova criatura com um novo desejo! A luta é a prova que você nasceu de novo! Louve a Deus pela sua luta! Permita-me explicar isso.

Encontrei-me com um pequeno grupo de homens de várias denominações, e abri a reunião com uma pergunta. “Você se sentiria à vontade usando um vestido, saltos altos, meias de nylon e perucas por uma semana? E se você não tivesse escolha?” Brincando, informei-os de que abriria a minha agenda para sessões de discipulado, caso algum deles se sentisse à vontade em roupas de mulher. Contudo, todos os homens concordaram que se sentiriam desconfortáveis... muito desconfortáveis! Por quê? As mulheres deles ficavam à vontade naquelas roupas. A resposta era na realidade bem simples. Vestir roupas de mulher quando se é homem, vai contra a natureza masculina. Seria uma luta e criaria um grande desconforto. O fato é que nós aprendemos muito mais sobre nossa natureza quando lutamos contra alguma coisa do que pelas nossas vitórias. A luta contra a tentação diz mais sobre nossa natureza do que aquilo que fazemos diariamente sem pensar nela.

Permita-me perguntar uma coisa. Antes de aceitar a Cristo como Salvador, você lutava contra imoralidade, mentira, engano ou calmantes, ou essas coisas eram bem naturais para você? Antes de me tornar cristão, a maior luta que eu tinha, no que se referia ao pecado, era o pensamento recorrente de que talvez não pudesse continuar fazendo aquelas coisas. Depois que Cristo entrou na minha vida, comecei a lutar contra aquilo que anteriormente era perfeitamente natural para mim. A luta revelou uma mudança. Na realidade, a profundidade da conversão é revelada pela intensidade das lutas. Muitos afirmam que a prova da conversão vem na forma relativa de sentimentos, vozes e milagres. Entretanto, por ser freqüentemente negligenciada como padrão absoluto para a conversão e a entrega, a luta é exatamente aquilo que prova que ela ocorreu.

Você consegue saber o quanto a sua natureza mudou se olhar para suas lutas. A maioria, contudo, acredita que se tiveram que lutar desde o novo nascimento, é prova positiva de que algo está errado com eles. A luta revela que algo está certo com você, que você foi mudado.

A jornada de meio metro.
Conscientizar-se de que a luta revela o que está certo dentro de nós, é uma jornada dupla. A primeira parte da jornada geralmente leva mais tempo. É a viagem de meio metro, da cabeça ao coração. A segunda jornada vai do coração aos pés.

A primeira jornada vem pela revelação. Deus – e somente Ele – precisa pegar aquilo que sabemos e torná-lo em algo que cremos. Nossa falta de fé é o obstáculo em todo ensino. Freqüentemente temos o conceito enganoso (graças à árvore do conhecimento do bem e do mal) de que entendimento é igual à mudança. Contudo, essa lógica perde o crédito quando vemos que a humanidade entende que os seus caminhos estão errados, porém continua neles. Saber é o mesmo que fazer quando a fé liga os dois. Ouço com freqüência que a Bíblia é o manual da vida. E isso é uma grande verdade! Contudo a maioria dos cristãos já sabe muito mais sobre as Escrituras do que consegue praticar. Será que memorizar muitos versículos bíblicos (o que seria uma grande obra) é melhor do que viver um versículo que já conhecemos (um pequeno ato de fé)? O ponto em que a maioria dos cristãos fica paralizado no que se refere ao cumprimento das promessas de Deus é que eles sabem, mas não crêem. Saber e crer é revelação. Significa luz com poder e confiança, pois Jesus é tanto o mestre quanto o poder do céu.

Para quem tem fé, aceitar a Cristo não é apenas uma promessa de, mas é tornar-se algo que ele nunca foi anteriormente: um filho de Deus. Quem crê agora tem uma nova natureza, identidade e vida como uma nova pessoa com novos desejos. A vida de Cristo é agora a vida dela (Colossenses 3:4). Ela está morta para o pecado. Ela tem poder sobre o pecado, Satanás e o mundo, pois ela tem poder de ressurreição. O céu não existe apenas no futuro. O céu é o Reino de Deus dentro dela.

Isso é verdade, quer você acredite ou não. Não posso prová-lo para você, mas você pode provar para si mesmo. Como? A sua luta é a prova! Aquilo contra o qual você luta prova a sua verdadeira natureza. A luta é o botão da flor, que é a profecia do desabrochar e do fruto que virá. Mas primeiro vem a luta. A vida abundante não acaba na luta, mas começa com ela. Durante todo o tempo, através da sua infelicidade, Deus vem falando: “Meu filho, o pecado não serve mais para você. Você não é mais feito para o pecado; você é algo novo. Seu desejo não é mais para o pecado e a sua luta contra o pecado prova isso.” Aleluia!! Você não é alguém que “nunca vai mudar”! Pode crer que ja é algo novo!

Eu amo Jesus. Uma razão importante para esta afirmação é que Jesus tem constantemente ministrado para o meu desejo, e não para meu comportamento. Meu comportamento tem sido com freqüência desastroso, mas ainda posso dizer honestamente que o desejo do meu coração permaneceu constante através dos anos. Quando Jesus encontrou a mulher no poço, os discípulos não queriam saber dela. Acreditavam que a mulher “não tinha jeito”. Eles a avaliaram pelo seu estilo de vida. No entanto, Jesus enxergou além do comportamento . Ele viu o desejo da mulher, reconheceu que ela era a mulher que levaria a mensagem da salvação para Samaria, e lidou com ela como se assim fosse. O desejo dela deve ter sido de servir a Deus. Muitos olhavam para o comportamento dos fariseus e acreditavam que eles eram santos. Contudo, Jesus mais uma vez olhou para além do comportamento – para o desejo – e os chamou de “sepulcros caiados. . . cheios de ossos de mortos” (Mateus 23:27). Desejo significa mais que comportamento. Há muitas ilustrações nas Escrituras que confirmam isso: de Abraão a Pedro vemos o desejo impelindo os corações dos que creram e formando a base da obra contínua de Deus na vida deles, apesar das regressões no comportamento.

No meu ministério de discipulado pessoal, oro constantemente para que Deus revele o desejo da pessoa com quem estou falando. Tem sido um absoluto que, se o desejo dela for para o Senhor, este desejo correto trará ao cristão a experiência de libertação que já foi dada no dia da salvação.

Isso nos leva à questão mais importante. Como podemos saber se temos o desejo certo em nossas vidas, necessário para que o trabalho continuado de Deus nos leve para além do comportamento que nos torna infelizes? A resposta é: as lutas. Aquilo com que lutamos revela não apenas a existência de uma nova natureza, mas também o novo desejo que veio com ela.

Uma mulher estava incomodada com seu ciúme obsessivo; um homem estava incomodado com seu apetite por pornografia; um pai com a rejeição a seus filhos; um pastor com sua amargura; um jovem com a mentira que havia contado; uma mãe com o aborto que havia feito; um empregado com um furto; um pai com seu vício nas drogas; um ancião com desejos sexuais; e um missionário, com a sua inatividade. Todos estavam chateados, sentindo-se idiotas, tolos, envergonhados e desconfortáveis. Por quê? Ninguém sabia desses insucessos deles, pois fui o primeiro a escutar isso deles. Por que estavam todos atormentados? Porque possuem novas naturezas! O comportamento deles não combinava mais com eles; eles não foram feitos para esse comportamento e a luta revela a verdadeira profundidade da conversão deles.

Isso nos trás à segunda jornada: permitir que a revelação se mova até os nossos pés. Não por obras mortas, tentativas vãs de ser santo, ou tentar ganhar a aceitação de Deus através da melhora do comportamento, mas pela ação que a fé sempre traz. O cristão pode levantar-se todas as manhãs e pensar no seu pecado, no insucesso, no passado, nas preocupações, nos medos, na depressão, na ansiedade, na ira, e em todas as outras obras da carne, e simplesmente dizer “Eu poderia fazer todas essas coisas hoje e saber que ainda assim iria para o céu, mas elas simplesmente não servem mais para mim”.

Eu estava parado num aeroporto em Londres com vários homens de negócio, quando uma jovem mulher passou por nós coberta apenas com trajes muito parcimoniosos. A maioria dos homens tinha algo a dizer depois que a mulher passou. Um deles, na verdade, virou-se para mim e perguntou: “Você gostaria de passar a noite com ela?” Comentei que a mulher era atraente, porém “aquilo não combinaria comigo”. Aquilo não me faria feliz; não elevaria o meu espírito; e tal comportamento iria contra a minha natureza, tornando-me infeliz e inquieto no final. E continuei me sentindo muito à vontade e feliz.

A vida cristã – a vida de Cristo – combina com os cristãos. Fomos feitos para ela. A luta vem de alguma coisa fora Dele, e é um lembrete suave de que não somos mais feitos para os desejos dos olhos, os desejos da carne, ou o orgulho jactancioso da vida.

Nós, cristãos, fomos feitos para um mundo criado por Deus. Ele fez tudo o que nós sentimos, vemos, tocamos, saboreamos e experimentamos. Ele fez Seus filhos para viverem neste mundo. Não estamos em atrito constante para sair do mundo. Nós somos donos dele, nós o herdamos, podemos nos mover nele e vencê-lo. Quando andamos em nossa nova natureza com a vida de Cristo dentro de nós, até mesmo as flores parecem nos animar a seguir pelo nosso caminho. Aqueles que não nasceram de novo tem tudo contra eles. A vida cristã é a vida mais natural. Ela precisa ser natural, pois estamos em Cristo, Cristo está em nós, e todo o mundo é mantido inteiro por Ele. Se algo é não-cristão, é ao mesmo tempo não-natural. O viver cristão é um viver natural. Não precisamos prová-lo, pois a própria vida o prova para nós diariamente.

Cristianismo budista

Você está enredado num cristianismo budista?
(do original Are You Caught in a Ying-Yang Christianity? por Mike Wells)

Romanos 8:8 “Quem é dominado pela carne não pode agradar a Deus.”

Para mim, entender a carne é um dos fundamentos para vivermos a vida cristã de maneira prática.

O velho homem (a vida de Adão, a velha natureza) está morto. Algo foi crucificado com Cristo e esse “algo” é o velho homem ou a vida de Adão, ou a velha natureza. Um cristão não tem duas naturezas. Isso é mero “budismo” cristão. O ensino das duas naturezas é apenas o ensino do ying e do yang. Não há nenhuma batalha entre o bem e o mal. O bem e o mal vêm da mesma árvore. Conheça o bem, e você também conhecerá o mal. A vida de Cristo em mim (o bem) não é lutar contra a velha natureza (o mal). A velha natureza não tem poder, pois está morta.

Causa uma certa frustração ao confiarmos ou tentarmos melhorar algo que está morto, mas tenha certeza de que ela está morta. A vitória não vem de ajudarmos ao Jesus que está dentro de nós, a vencer a velha natureza. Se isso fosse verdade, quando apresentamos a alguém a opção de Cristo viver nele, estaríamos apresentando um pesadelo, uma vida inteira de lutas. Mas não é isso que a bíblia ensina. Você (a velha natureza, a vida de Adão, o velho homem) está morto. Você tem apenas uma vida dentro de você: a vida de Cristo.

Mas então por que lutamos? Ainda temos a carne. O homem é espírito, alma e corpo. Quando o espírito é desconectado do corpo e da alma (razão, vontade, emoções) através da morte que Adão introduziu ou através das escolhas feitas por um crente, essa pessoa (cristã ou não-cristã) viverá na carne. Portanto, a carne é nosso ser sob a direção ou influência de algo diferente do Espírito que vem de Deus. Um animal tem mente, vontade, emoções, corpo e um ambiente do mundo. A expressão da vida do animal é definida pelos movimentos no mundo, sem qualquer influência do espírito. Portanto, o homem sem o controle do espírito (um não-cristão morto no espírito; um cristão bloqueando o espírito) é chamado de carnal ou animal.

A carne é singular em cada animal e em cada indivíduo. Por natureza, nascemos separados de Deus. Através dos estímulos (os acontecimentos que vem à mente, vontade, emoções e corpo), das circunstâncias interiores (uma mente, vontade e emoções fora de controle), e das circunstâncias exteriores (o mundo, o corpo ou a mente, vontade e emoções de outros que estão fora de controle) a carne será modelada de forma singular. Depois de modelada, ela é fixada em concreto. E este é um ponto muito importante. Uma vez que se desenvolveu, a carne não muda. No entanto, é possível continuar acrescentando mais a ela. Por exemplo: um menino busca segurança junto ao pai e o pai abandona esse menino. A carne do menino agora se desenvolveu em algo inseguro. Então, certo dia, o menino recebe uma nova vida que substitui a velha natureza (a vida de Adão ou a velha vida). Ele recebe a vida de Jesus. Ele é enxertado na Videira. A vida de Jesus é segura e ele identifica uma segurança que agora há nele, a segurança de Cristo. É um erro pensar que esta segurança recém descoberta venha dele próprio. Ela é a segurança de Cristo fluindo nele e ele é um participante dessa segurança. Entretanto, a sua carne insegura não mudou. A cada momento, como um ramo na videira, o menino deveria simplesmente dizer uma oração de agradecimento: “Jesus, a sua segurança é bem-vinda aqui. Obrigado por deixar-me participar dela”. Se ele fizer isso, nunca experimentará a insegurança da sua carne. Contudo, se o menino tirar os seus olhos de Jesus, parar de permanecer Nele naquele momento, e bloquear o espírito de Jesus ao escolher confiar em outra coisa, descobrirá que a carne, aquilo que nutria o seu ser quando não tinha Jesus, não mudou nem um pouquinho. Ele vai sentir-se inseguro, por que “carne é carne”. Nesse ponto, ele pode até acrescentar mais natureza humana, aumentando a carne, ao deixar que o caos que há fora dele e no seu interior tomem conta dele e o dominem.

Muitos cristãos, depois de aceitarem a Cristo e andarem momento a momento com Ele, fecham a porta para Ele, através da escolha (ou livre-arbítrio), e adicionam mais carne à sua carne. Há vinte anos atrás, não havia cristãos que tivessem problemas com a pornografia na internet. Atualmente é comum. É um novo acréscimo à carne, mas a raiz estava bloqueando o espírito e buscando outra coisa para alimentar a mente, as emoções e o corpo. Houve um acréscimo à carne. A solução é fácil: coloque seus olhos novamente em Jesus. A vida da videira que é livre de pornografia fluirá para dentro do ramo e você experimentará uma liberdade que não vem de você, mas que agora é sua. Contudo, feche a porta para a videira (ela se fecha com o orgulho dizendo “eu consigo” e se abre com a humildade dizendo “eu não consigo”), e você descobrirá que a carne não apenas se sente insegura, mas também está ansiando por pornografia. A carne pode sofrer acréscimos, mas nunca se consegue diminuir o seu tamanho. Isso é extremamente importante para a vida cristã, e nunca é demais enfatizar esse fato.

É engano crer que a carne possa mudar. O inimigo usa esse engano de várias maneiras. Primeiro, ele faz com que os cristãos sigam um programa atrás do outro para mudar a carne. Mas tudo que precisamos é simplesmente permanecer.

Em segundo lugar, o inimigo usa os cristãos carnais que tenham a carne forte para fazer comparações e focalizar a mente dos cristãos sinceros na carne.

Em terceiro, o inimigo faz com que o cristão tente desfazer aquilo que ele entende ser a má carne, através da prática do bem. Esse engano é incrível. Se você agradar as pessoas durante todo o dia, vai odiá-las à noite. Se encher sua cabeça de pensamentos positivos durante todo o dia, será vencido pelos pensamentos negativos à noite. Se controlar seu apetite durante todo o dia, vai devorar comida à noite. O bem alimenta o mal. Eu tinha dois cavalos: um preto e outro branco. O preto nunca queria ser cavalgado e ficava longe do portão. O branco gostava de mim e vinha para perto do portão. Mas quando eu abria o portão para o cavalo branco, o preto vinha correndo como doido, aproveitando a oportunidade para escapar de mim e do cavalo branco. O preto usava o branco. Eu chamo de "cristãos budistas", os que fazem listas das coisas boas e más, os que sempre estão dizendo o que é bom e o que é mau, e fazendo comparações. Eles tornam as pessoas piores. Sempre.

Em quarto lugar, no cristianismo budista não há espaço para o fracasso. Você, a sua carne, nunca muda. Ao se tornar cristão, sua carne nunca melhorou. Isso pode ser uma revelação deprimente (se você quiser ter justiça própria) ou a coisa mais libertadora do mundo se você permanecer, se focalizar-se em Jesus. O cristão mais famoso que você conhece tinha a carne feia até o dia em que morreu. Como é que o apóstolo Paulo poderia dizer com tanta convicção: " na minha carne não habita bem nenhum?" Ele dizia isso até o dia em que morreu. Eu gostaria de banir os livros sobre os "grandes" cristãos. Bom, pelo menos banir os livros que fazem comparações sutis entre o "grande" homem e nós baseadas na carne dele que era forte, bem adaptada, exigente e assumia riscos. Isso está simplesmente errado. Não existem grandes homens de Deus: existem homens fracos com um grande Deus.

Lembrem-se disso quando estiverem escutando ou olhando para um cristão que está ministrando: você está vendo Jesus. Esse homem, se não estiver permanecendo, não é melhor do que um bêbado ou do que a pior pessoa que você conhece. Ele não melhorou a si mesmo com anos de disciplina "cristã". No entanto, essa revelação é uma das mais belas que já tive. Ela me mantém algemado a Jesus, momento a momento. O que me faz ficar perto Dele é a consciência da minha fraqueza. Algumas pessoas talvez se queixariam e chamariam isso de espinho na carne; mas por que me queixar, se a consciência de que nada posso fazer sem Ele me mantém perto do perfeito amor, e me torna participante da perfeita vitória?

Mas não desanime em descobrir que está igual a antes, ou pior do que antes de se tornar um cristão. Isso é a carne e ela não muda. Nem vai mudar. Deus a deu para você, para que você fosse infeliz sem Ele no momento. Ele sabia que teríamos a carne e Ele não está lutando contra ela, mas usando-a para aproximar você Dele. Agora, dê a você e aqueles ao seu redor um pouco da graça. Não fique tão chocado quando o "pastor" diz um palavrão, quando o evangelista fica irado, quando o obreiro cristão fica bêbado, ou quando pegar a si mesmo vendo pornografia na internet. Isso é a carne, e porque o velho homem está morto, você pode escolher (assim como eles) a voltar para o relacionamento de vida abundante na videira. Ao fazer isso, naquele momento a vitória Dele é sua. Mas lembre-se que a carne estará sempre com você. Ela é a fortaleza de Deus para mantê-lo perto Dele.